Chico Mendes, A Caverna e o Alienista
“Que diferença faz quem é Chico Mendes neste momento?”
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, rebateu assim os questionamentos de jornalistas no programa Roda Viva. Ele não sabe não só porque não quer, mas também pela ‘linha editorial’ do Brasil. Não interessa mais a esse País o estudo, a análise, o cuidado de entender o que foi, o que é e o que poderá vir a ser. O Brasil vive um processo não de desinformação. É algo muito mais grave. É de negação da verdade ou a fonte dela.
Melhor, ou menos ruim, seria se fôssemos uma nação de completos ignorantes, sem acesso à informação. O alcance da resposta ao ministro está a um clique de distância — ou toque na tela. Parece que o Brasil passou a morar na Caverna de Platão ou na Casa Verde, o manicômio criado por Machado de Assis, em ‘O Alienista’. A sensação que transmitimos é que crianças de quatro anos têm senso crítico mais aguçado que marmanjos e marmanjas de 30. Sabe a fase filosófica, quando a gurizada repete ‘Por que?”, quase indefinidamente? Pois é, hoje poucos perguntam:
Por que o ministro, ao falar de Chico Mendes, limitou-se a um ‘ouvi dizer’? Ouvi dizer é expressão de vizinhas fuxiqueiras, que conversavam entre os muros de suas casas — hoje devidamente codificadas no whatsapp.
Por que um agente público condenado por improbidade administrativa tem um cargo de tanta relevância no Governo Federal?
E antes de terminar, não vamos deixar o ministro sem resposta, não é? Por incrível que pareça, ministro, Chico Mendes é tão importante agora quanto era em vida. Porque, ao lutar contra o desmatamento desenfreado ele não estava preocupado apenas consigo e seus pares. Ele se preocupava, veja só, com você e comigo! Porque o desmatamento provoca mudanças climáticas violentas, que vemos claramente — ao menos quem está fora da Caverna, 😉.
Essas mudanças alteram Essas mudanças alteral os ciclos das chuvas. Veja só isso, ministro: em outubro de 2016, satélites da Agência Espacial
Identificaram que a região Sudeste perdera 56 trilhões de litros de água. Foi mais que o meu Nordeste (49 tri). Essa perde provoca um fenômeno chamado desertificação. A paisagem vai mudando, espécies — vegetais e animais vão morrendo. Quem mora ali vai ser expulso sabe para onde? Para os grandes centros urbanos. Existem estudos apontado que metade das espécies de plantas da Amazônia, que Chico Mendes tanto defendia, desapareçam até 2050, ano em que talvez eu e o senhor ministro ainda estejamos por aqui, talvez contando para nossos netos como era o Brasil naquela época.
A região Sul viu o oposto. Tornados? Temos! Ou passamos a tê-los. Em 2015, esse negócio, que ganham nomes bonitinhos, quando chegam no litoral dos EUA, deram o ar da graça em Marechal Cândido Rondon, no Paraná. Os ventos chegaram a 115 km/h. Teve enchente em Santa Catarina, aumento do nível do Lago Guaíba, no Rio Grande do Sul.