Crise do Barcelona não é a primeira, nem a maior. E ela chega para todos
Momentos de incerteza, crises e escassez de conquistas são mais comuns que se imagina na história de qualquer clube. E quem começou a acompanhar futebol nos últimos 15 anos talvez não achasse isso possível com um clube do tamanho do Barcelona. Mas é sim. E já foi bem pior do que agora. Ao menos, o problema atual reduz-se ao jogo em si. O Barcelonismo, talvez a mais vitoriosa combinação de beleza e eficiência da história, pode ter chegado a uma encruzilhada. Um local onde outros tantos dominantes chegaram um dia e os futuros donos da bola igualmente chegarão.
O gigante catalão passou por algo até pior na virada do século. O time que encantou na primeira metade da década de 1990, comandando pelo genial Johan Crujiff, sob fortíssima influência holandesa, começou a dar sinais de desgaste quando o técnico saiu em 1996. Ainda houve um espasmo em 1999, curiosamente com outro conterrâneo de Maurício de Nassau, Louis Van Gaal, quando Rivaldo encantava o Camp Nou todo domingo.
Mas era muito pouco. Em nível continental, o Barça derrapava e via o Real Madrid aumentar sua coleção de títulos com as conquistas da Champions League em 1998 e 2000. Os culés mandaram vários jogadores embora e, nos bastidores, encaravam outro adversário milionário. As dívidas contraídas na gestão de Joan Gaspart foram tão altas que levou o dirigente a entregar o cargo. Enric Reyna, que assumiu interinamente. A situação em 2003 deixou o time na segunda metade da classificação, um impensável 11º lugar.
Reyna teve que desfazer de terrenos para aliviar o débito total do clube, que era de US$ 230 milhões — R$ 1,2 bilhões na cotação atual.
Só fim da temporada 2002/2003 deixou um rombo de US$ 154,2 mi. Um terreno onde seria construído um centro de treinamento foi vendido por US$ 16 milhões. Por outros US$ 25,6 milhões, o novo presidente negociou um pacote que incluiu Petit, Zenden, Simão e Arteta.
A situação começaria a mudar com a chegada de Ronaldinho, ainda naquele ano. O Barcelona deu um salto e terminou em segundo lugar, atrás apenas do campeão Valência. Dali em diante, com alguns percalços no caminho, o clube investiu num modelo de futebol nas divisões de base, que daria ao mundo Xavi, Iniesta, Piqué e, principalmente, Lionel Messi. O resto é história.
A crise técnica de agora, amplificada pela surra de 8x2 tomada pelo Bayern de Munique deve soar menos traumática. O Barcelona sempre foi mestre em se reinventar e, a partir dessas reinvenções, criar tendências e mudar a forma de encarar o jogo. E convenhamos, o tique-taque dava sinais de desgaste desde o fracasso da Espanha na Copa 2014 depois de seis anos praticamente perfeitos — a Copa das Confederações, perdida para o Brasil não foi uma tragédia.
Ao mesmo tempo em que pode entristecer os que cresceram vendo aquele time imparável de Guardiola, também gera uma grande expectativa. Qual o próximo passo? O que eles vão tirar da cartola para aliar a intensidade, marcação forte e jogo físico de Bayern, Liverpool e companhia à leveza do seu DNA? Chegou a hora de unir Floyd Mayweather e Mike Tyson.