Estamos sob a ditadura da hashtag
Saudosismo, limitação de pensamento ou desatualização. Só isso responde às insistentes insinuações e questionamentos sobre um golpe militar no Brasil. O próprio vice-presidente, General Mourão, deixou bem claro: “Quem é que vai dar golpe? A turma não entendeu, não existe espaço no mundo para ações dessa natureza”. O aniquilamento da democracia, no século XX é bem diferente.
Esqueçam tanques nas ruas, cavalaria baixando o pau em passeatas. É inconcebível em tempos de redes sociais, com fotos, vídeos e informações instantâneas. O que se faz hoje é um aparelhamento dos poderes constituídos, nos mecanismos de controle, freios e contrapesos. A democracia continua com a roupa da democracia, mas quem a veste é o corpo da ditadura.
É preciso um apoio popular. E isso Bolsonaro tem. É maioria? Não, mas é tão organizado que aparenta ser, amplificado por uma oposição fragmentada e uma considerável fatia completamente indiferente. A ditadura que se instaura rapidamente é a da rede social. Hoje, ela faz muito mais barulho do que carreatas ou passeatas, em tempos de pandemia ou não.
Todo dia temos uma, duas, três hastas atacando o STF, o presidente da Câmara, etc, etc. Esses são os ‘tanques na rua’, a ‘cavalaria’ do século XXI. É com esse apoio que se corrói a Polícia Federal, o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e os ministérios. Note-se que para cada ação não há reação, mas #bolsonarotemrazão #morotraidordapátria #foramaia #stfvergonhanacional.
Essas # com 300, 400 mil postagens no Twitter são um poderio bélico inimaginável, pois trazem, na prática, um viés plebiscitário. É como se tudo que o aspirante a ditador faz ou fale, horas seguintes fosse apresentado e aprovado em escrutínio popular. O voto tornou-se apenas o último capítulo da eleição diária em que nos metemos. E ao contrário das urnas eletrônicas, aquelas podem ser manipuladas indiscriminadamente ao gosto do freguês.