Estar vivo é tudo que Jim Morrison não gostaria
A essa altura do campeonato poucos ainda devem sustentar a tese de que Jim Morrison está, ou poderia estar, vivo, por mais controversas que sejam as circunstâncias da morte, autópsia, velório e sepultamento do Rei Lagarto aos 27 anos. Afinal, nesta sexta-feira (3) a morte, vá lá, da presença física do frontman dos Doors, completa 49 anos. E, convenhamos, o que melhor ele faz por si mesmo é manter-se distante deste plano.
É impossível conjecturar o cantor nos dias de hoje, dada sua personalidade selvagem e hedonista, o escapismo, seja pelas letras ou substâncias químicas, proibidas ou não. E nem chegamos à beleza, sex apeal, carisma e a incrível capacidade de levar multidões ao êxtase — e por elas também ser levado. Definitivamente, um combo que não combina com um idoso de quase 77 anos, idade da qual ele estaria se aproximando, caso estivesse por aqui.
Basta dar um Google rápido no nome do vocalista e dar uma leitura rápida de sua curta (cronologicamente falando) e recheadíssima biografia. Morrison é daqueles que aparecem por aqui apenas para subverter o que chamamos de tempo. É possível fazer tanto em tão pouco. Moralistas de plantão dirão que o roqueiro é um dos piores exemplos dessa tese, pois foi tragado pela vida desregrada que levava. Mas existem regras para viver?
Morrison fez o que quis, viveu várias vidas numa só. Catalisou suas dores, fantasmas e amores nos poemas que escreveu e nas letras que cantou. Se hoje aparecesse careca ou com os cabelos todos brancos, enrugado e barrigudo de cerveja ninguém o levaria a sério por mais brilhante que fosse — e realmente foi.
Nós podemos tocar música.
Porém você quer mais.
Você quer algo & alguém novo.
Estou certo?
É claro que estou.
Eu sei o que você deseja.
Você quer êxtase.
Desejo & sonhos.
As coisas não exatamente como parecem.
Ele não poderia ser um coroa descolado e venerado como Paul McCartney porque não tinha a música saindo de todos os poros. Também não dava para ser Mick Jagger, que por mais que os Stones tivessem a fama de drogados, sempre manteve uma aura saudável, oscilando entre seus dois personagens favoritos: o roqueiro rebelde e o saudável homem de negócios, dono de uma das mais potentes máquinas de dinheiro do entretenimento.
Ele não poderia virar um Keith Richards. Keith era doidão e liderava todas as listas de roqueiros com ao menos um pé na cova durante os anos 1970, mas seu vício machucava, corroia. O vício de Jim libertava, expandia, agigantava.
Jim não poderia ter câncer, arritmia ou pressão alta. Era algo pequeno demais para ele. Com ele teria que ser tudo ou nada. Quem vive com tanta intensidade como ele viveu morre justamente pelo excesso de vida, por mais paradoxal que isso possa parecer — e não é.
Ele também não poderia ser apenas poeta. Ele era arrebatador demais para esconder-se atrás de rimas e estrofes. Para ele não dava para ser uma coisa só. Não dava para ser apenas o cantor bonito dos Doors, ele precisava levar seu público aos níveis estratosféricos de selvageria que atingia. Não bastava compor e gravar álbuns brilhantes, era preciso expressar-se como um “pregador americano”. Não precisava arrastar-se, ano após ano em busca de algo que ele sempre soube que não encontraria aqui. Por isso foi preciso “break on through to de other side”.