Não vai ter debate entre Lula e Bolsonaro

Wladmir Paulino
3 min readMar 11, 2021

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“Imagina um debate entre Lula e Bolsonaro”. Essa frase e algumas de suas variantes dominaram as redes sociais depois do pronunciamento do ex-presidente nesta quarta-feira, o primeiro após recuperar, ao menos momentaneamente, o direito de se candidatar. Realmente, Lula falou muito e falou bonito, tanto que até Bolsonaro resolveu ser presidente da República por algumas horas, agilizando aquisição de vacinas e usando máscara em evento no Palácio do Planalto. Mas o desejo de ver uma troca de ideias dos maiores expoentes dos campos ideológicos predominantes no País não passa de ilusão e uma dose de anacronismo dos milhares de simpatizantes do petista. Não vai haver debate entre Lula e Bolsonaro, nem em 2022 nem nunca. E por vários motivos.

O principal deles é que Bolsonaro não vai debater, nem com Lula nem com ninguém. O campo de batalha do atual presidente não é o corpo a corpo. E nunca foi, nem mesmo quando ele chafurdava no baixo clero do Congresso. Bolsonaro não sabe organizar pensamentos e, por isso, não articula argumentos. E não é porque ele não quer. É porque não consegue, embora tenha tempo suficiente no jogo político para ter aprendido.

“Tá, mas ele foi eleito como?”

Com frases curtas, diretas, que seus seguidores guardavam a sete chaves e encontraram nele uma caixa de ressonância. É só lembrar a campanha em 2018. Enquanto esteve nas ruas, Jair não era notícia por ter prometido X ou Y. Era “Vamos fuzilar a petralhada!” “Nossa bandeira nunca será vermelha” e outras referências a um imaginário regime comunista que ameaçava a nação.

O discurso curto, emocional e carregado de frases de efeito é próprio das redes sociais, esse sim, o campo em que o presidente domina — na verdade quem cuida de sua comunicação — com maestria. Tente, por um minuto, esquecer as fake news e foque na eficácia da mensagem. Nisso ele não falha. O domínio da narrativa, quase sempre falsa ou distorcida, é verdade, funcionou em 2018 e continua funcionando. Por mais que pesquisas indiquem que as avaliações ruim/ péssimo aumentaram, os 30% que acreditam nele permanecem intactos e são um número bastante expressivo. O leva facilmente para um segundo turno.

Ir a um debate para quê? Argumentar sobre superávit primário, balança comercial ou commodities? Não é com ele. E para ampliar acesso a armas de fogo, matar bandido e ver comunista atrás da porta não precisa de argumento. Basta uma frase, uma imagem bem montada num card espalhado pelos grupos de whatsapp e pronto, está feita a campanha!

Se Lula ou quem quer que seja quiser jogar esse jogo já deveria estar em campo. O debate agora é indireto, é curto e só ganha alcance criando um ecossistema virtual muito forte. Será preciso ter ao lado não um grande marqueteiro. Um Duda Mendonça da vida não vai ganhar eleição para ninguém. É preciso encontrar nas redes quem poderá amplificar sua voz, fazer com que o recado chegue aos quatro ventos, em outras palavras, engajar. E político nenhum conseguirá engajar só com a força do seu nome ou o legado que deixou. Por maiores que sejam.

Será preciso usar a melhor tática do bolsonarismo: usar os próprios adversários como propulsores de sua mensagem. Vão ter que aprender rápido e colocar em prática mais rápido ainda. A ampulheta já virou.

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