O Carnaval é uma bomba-relógio fazendo tic-tac no Leblon
Houve surpresa, choque e comoção com as imagens dos bares lotados no Rio de Janeiro apenas porque foi a primeira vez. A abertura em São Paulo a partir de hoje também vai render imagens semelhantes ou até piores, já que a tendência, por ter uma população mais numerosa, é tudo adquirir uma proporção maior. As imagens também vão assustar.
Mas daqui a pouco será no Recife, em Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre… E, por fim, a decisão de que não tem mais SARS-CoV-2 circulando por aí. E vai chegar o Carnaval. Alguém já imaginou como será a maior festa popular do País com esse bichinho pululando nos nossos corpos?
Pelo andar da carruagem e dos estudos é fato de que não estaremos livres dele até 13 de fevereiro de 2021, o aguardado Sábado de Zé Pereira. Aliás, dia de nada mais nada menos que o Galo da Madrugada, aquele mesmo que foi para o Livro dos Recordes como bloco carnavalesco mais aglutinador do planeta.
O que as autoridades públicas vão fazer? É impossível conter a massa nas ruas e ditar regras para uma festa que, em sua essência, é abolir amarras durante quatro dias. Ou alguém imagina uma barricada de policiais militares e guardas municipais nos Arcos da Lapa controlando a entrada de gente “porque só é permitida a presença de 40% da capacidade” ou mandando de volta para casa quem não estiver com máscara de proteção. Talvez uma solução seja criar uma lei obrigando o povo a se fantasiar de médico ou enfermeiro…
Se houve agressividade de uns e outros aos fiscais no Leblon, leve isso para uma situação com dezenas de milhares. O anonimato provocado por uma multidão pode levar muita gente a níveis de selvageria bem maiores do que os mostrados pelo Fantástico neste domingo.
E como seria a reação de quem tem que manter a ordem? No Leblon vimos a passividade já característica num lugar cheio de gente branca e de classe média alta. No Carnaval essa mesma gente branca se mistura com a turma do andar de baixo. Será que vamos ter: “Bom dia, cidadão, o senhor não está respeitando a regra de distanciamento, poderia ser colocar um pouco mais à direita?” O Exército terá que ser colocado na rua para controlar fluxo de gente?
Pensar sete meses à frente não é histeria. Esperar para ver e tomar uma decisão errada caminham juntos. O Carnaval 2021 é uma bomba-relógio já acionada e o Leblon foi o primeiro eco do tic-tac.