O raio não cai duas vezes no mesmo lugar, Náutico

Wladmir Paulino
4 min readAug 11, 2021

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Tiago Caldas/ Clube Náutico Capibaribe

Os brasileiros da Série B de 2011 e 2021 estavam praticamente idênticos para o Náutico, até que a realidade bateu à porta e o reboot que se ensaiava vai ter que virar outra série, provavelmente com muitas reviravoltas. Com as saídas de Wagner Leonardo (zagueiro), Erick (atacante) e a contusão do artilheiro Kieza que o tirou do restante da temporada, os campeões pernambucanos desconfiaram — e os últimos jogos começaram a provar — que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, pelo menos quando se trata de encarar um campeonato de 38 rodadas com apenas 11 jogadores e ainda assim atingir o objetivo, no caso do time pernambucano, o acesso à Série A.

Para quem não lembra ou era muito novo há dez anos, o Timbu entrou na Série B com um time promissor, não obstante a eliminação para o Sport na semifinal do Campeonato Pernambucano, fato que precipitou a demissão do técnico Roberto Fernandes. Para o lugar veio Waldemar Lemos. A estreia na Segundona não foi promissora, aliás, foi é preocupante, já que o time perdeu por 4x0 para a Portuguesa.

Apenas um susto. Dali em diante, o time seguiria uma campanha arrasadora, que lhe valeu o acesso com uma rodada de antecedência, o vice-campeonato e a artilharia, com os 21 gols de Kieza. A campanha teve um diferencial, raramente visto num campeonato tão longo: o time atingiu o objetivo com praticamente os 11 titulares: Gideão; Peter, Marlon, Ronaldo Alves e Airton; Everton, Elicarlos, Derley e Eduardo Ramos; Rogério e Kieza.

Uma série de eventos levou a essa inusitada campanha. Primeiro, a óbvia qualidade do time. Com exceção das laterais, o Náutico tinha uma dupla de zaga segura, um meio de campo sólido e um ataque, ao mesmo tempo, veloz e certeiro. O problema é que nenhum deles tinha um substituto a altura. Mas o destino alvirrubro naquele ano era subir, tanto que todos os ‘contras’ que estão aparecendo agora, passaram muito longe dos Aflitos em 2011.

Ninguém se machucou, foi negociado ou retornou ao clube que o emprestou. Some-se outro fato importante e muitas vezes imperceptível: até mesmo as inevitáveis suspensões não aconteceram a rodo. Nenhum setor pegou mais de um suspenso por partida. Os números mostram a regularidade.

Os 11 jogadores citados acima são os que mais minutos estiveram em campo naquela Série B e apenas o lateral-esquerdo Airton e o goleiro Gideão jogaram menos de 2.000 minutos. Para reforçar a tese, os números dos reservas. Os mais atletas mais acionados de linha foram Jeff Silva (lateral-esquerdo), Diego Bispo (zagueiro), com 1.563 e 1.120 minutos, respectivamente. Além deles, o goleiro Gledson (1.008).

Essas poucas opções de troca tornaram vários jogos emblemáticos, com Waldemar simplesmente abrindo mão das três substituições permitidas, um deles o confronto com o Boa Esporte, quando o time confirmou o acesso. Isso também se refletiu no desgaste apresentado pelo time na reta final, quando não conseguiu vencer nenhum das três últimas partidas.

Cortando para 2021. Alex Alves; Hereda, Camutanga, Wagner Leonardo e Bryan; Matheus Trindade, Rhaldney e Jean Carlos; Erick, Kieza e Vinícius. Esse foi o 11 de ouro do início arrasador na Série B, com direito a cinco vitórias seguidas nas cinco primeiras rodadas e que prometia uma competição tranqüila.

Porém, desta vez o sucesso e a dependência cobraram caro. O Santos pediu Wagner Leonardo de volta e não houve alternativa para manter Erick, devolvendo-o ao Braga, de Portugal. Quase um mês depois Kieza sofreu um rompimento no tendão de Aquiles da perna esquerda.

O desempenho coletivo caiu, culminando em três jogos seguidos sem vencer e as duas primeiras derrotas, para Coritiba e o então lanterna Confiança, essa com direito a goleada por 4x0 em pleno Eládio de Barros Carvalho após 26 jogos de invencibilidade em casa.

Por soberba, comodismo ou economia, o Náutico preferiu investir apenas em um time para o Campeonato Pernambucano. Foi o suficiente para ser campeão com sobras — os dois empates na final e conseqüente vitória nos pênaltis nem de longe refletiram o desempenho bem superior ao Sport nas duas partidas. Mas a diferença é gritante: no Estadual foram apenas 12 jogos, quantidade já inferior aos 16 já disputados na Série B, que nem chegou à metade, diga-se.

É claro que ainda há tempo e pontos acumulados que permitam alguma estagnação. Mas ela tem um prazo de validade. Primeiro porque os adversários estão se aproximando. Segundo, e principal, para manter a confiança do grupo. Mas para que isso seja visto em retrospecto como um mau momento dentro da campanha vai ser preciso recompor o que foi perdido ou se reinventar. Afinal, já está provado que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

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