Pelé: máquina e magia; força e leveza

Wladmir Paulino
2 min readOct 23, 2020

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Em alguns momentos no tempo em que nós, humanos, passamos a habitar esse planeta, aquele que nos permitiu estar aqui, que alguns chamam de Deus, outros Universo, Grande Natureza, Alá, Olorumaré falou com a gente usando alguns escolhidos para mostrar sua perfeição. Ele falou pela boca de Jesus Cristo, pelas mãos de Michelangelo e pelos pés de Pelé. Esse mesmo que chega aos 80 anos e traz, ao mesmo tempo, a fantasia por sabermos que ele está aqui e a angústia de vislumbrar que esse número octogenário também significa a aproximação de sua ausência.

É horrível escrever isso justamente quando alguém comemora justamente o fato de ter nascido e o privilégio de chegar a uma idade avançada. E ainda por cima lúcido e razoavelmente bem ativo. Mas enfim, como o próprio já disse: “Pelé é imortal mesmo. Mas o Edson vai morrer qualquer dia”.

A enxurrada de homenagens prestadas a Sua Majestade boleira vêm de tantos lados que se torna impossível lembrar qualquer coisa, mas talvez a maior prova da grandeza de Pelé seja a transfiguração de seu nome, um substantivo, para um adjetivo, que carrega em seu significado ‘o melhor’ seja em que área for.

Michael Jordan já foi chamado de Pelé do Basquete. Schumacher (Hamilton também?) o Pelé do automobilismo. Tiger Woods é o Pelé do golfe e Michael Phelps o Pelé da natação. Até então nunca ouvi ninguém dizer que Usain Bolt é o Messi das provas de velocidade ou Serguei Bubka o Cristiano Ronaldo do salto com vara.

Pelé foi o que foi por um misto de talento e trabalho, nem sempre nessa mesma ordem. Ele era obcecado por vencer, por transcender. Chutava com os dois pés com tamanha qualidade que poder-se-ia dizer canhoto. Mas foi algo aprendido chutando a bola na parede com o pé esquerdo, seguindo conselho do seu pai, Dondinho, um promissor atacante frustrado por problema nos meniscos — algo hoje tratável em um mês.

Ele corria mais rápido que qualquer um porque era privilegiado fisicamente e treinava para correr, assim como treinava saltos e finalizações.

Se olharmos para o futebol de hoje poderíamos dizer que a medula e os pés de Pelé foram separados para origem aos já citados Messi e Cristiano Ronaldo. Um é máquina e outro magia; Um é força e o outro leveza; Um sólido, outro fluido.

Pelé é tudo isso: o início, o fim e o meio, como diria Raul.

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Wladmir Paulino
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Written by Wladmir Paulino

Jornalista, aspirante a contador de histórias

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